A ESCUTA

Certamente você já ouviu alguém falar que o psicólogo não faz nada, só fica ali, ouvindo. Eu mesma já ouvi de uma paciente, muito brava, que era irritante demais a forma como eu ficava lá sentada na minha poltrona, sem dizer nada. Bom, isso não é verdade, os analistas falam. De onde vem a irritação, então? Claro, isso era conteúdo a ser analisado. 

Naquele caso, o silêncio da analista representava ausência de demandas externas sobre ela e isso a irritava, ou melhor, desnorteava. Sua vida era muito guiada pelo o que as pessoas solicitavam, o que inibia boa parte de sua espontaneidade e alegria de viver. Algo diferente era território desconhecido. Há perigo no desconhecido. Estas não são conclusões precipitadas de uma única sessão, mas revelações que se fazem dentro de um processo analítico.

O silêncio do analista é uma das melhores coisas que podemos oferecer. Trata-se de calar para ouvir melhor, de ter disposição para a presença que captura o que é dito, e também o que não é dito. Trata-se de menos palavras proferidas no lugar de suposto saber, para não responder depressa demais. Melhor é aguardar o que será revelado no minuto seguinte, dar espaço para a cadência da fala do paciente, suas pausas, suas expressões, seus suspiros. Com o tempo, nos tornamos aptos a perceber se algo não está bem só pelo “oi” dado na porta do consultório. Está aí a intimidade que cura.

© 2025 MARIANA ARAÚJO
(CRP – MG 04/56082)

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