Ela não deixa escapar nada. Nenhuma palavra, uma troca de nomes, um suspiro, um semblante. Ela é atenta, principalmente às incoerências. Ao mesmo tempo, ela já espera por elas e as aceita. O paradigma do tratamento freudiano consiste em manter o paciente em um contínuo estado de frustração na aposta de que o desejo ganhe corpo e força para enfrentar a realidade. Em outras palavras, a analista é a mensageira das más notícias.
Sabemos que esse tratamento é especialmente formulado para as neuroses. O paradigma winnicottiano aceita o freudiano, mas endossa uma tarefa terapêutica anterior: acusar a condição vulnerável do ser humano e apontar-lhe a necessidade de cuidados e dependência de outro ser humano. É perfeitamente aceitável que ambos apontem para a autonomia do indivíduo, mas sem pular etapas.
Por vezes, é de uma chatice tamanha que alguém te lembre que você precisa de cuidados ou, talvez, que seja sua função cuidar de alguém. Para além de moralismos e papéis sociais rígidos, quem é você na sua rede comunitária?
A psicanalista é uma chata porque vai te lembrar dessas coisas todas e não vai fazer questão de ser amada. Ela não teme ser odiada. Seu desejo é conduzir análises. Simples assim. Simples não é, e por isso as analistas sempre fazem análise.
© 2025 MARIANA ARAÚJO
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