O NARCISISMO MATERNO

Dos mesmos criadores de “DSM aos quatro ventos”, vem aí, o novo jargão em saúde mental: “mãe narcisista”. Não quero desmerecer aqueles que se sentem melhor ao afirmar que possuem uma mãe narcisista, pode ser um alívio reconhecer isso. Não quero desconsiderar que existem, sim, mães totalizadoras das experiências dos filhos, invasivas, que despendem energia demasiada em fins que se dirigem a si mesmas, perdendo de vista o sujeito em formação que delas dependem. Não pretendo amortizar o quanto isso pode ser catastrófico.

Também não vou ficar destilando ódio direcionado àqueles que popularizam termos complexos como esse sem responsabilidade – embora, às vezes, esta seja a minha vontade. Estou interessada, no entanto, no que vem depois. Uma mãe narcisista: e daí?

Há possibilidade de ferir tal narcisismo o suficiente para que se siga uma análise, suportando a presença de um analista e suas interferências? Caso estejamos falando de um adolescente ou um adulto, é possível que o discurso sobre “a mãe narcisista” caminhe para a libertação de uma vida vivida em função de outra pessoa? Permanecerá preso às críticas?

Quer dizer, em algum momento, em análise, é necessário que seja dito: você precisa sair do papel de vítima. O momento certo para que isso ocorra, no entanto, é variável. Cada um sabe o quanto precisa se vitimizar para que sejam esclarecidas as injustiças sentidas, não adianta querer acelerar o crescimento de ninguém.

Estamos aqui, até agora, falando da mãe. O pai narcisista? Olha só! Ele não existe…

Vera Iaconelli lançou recentemente um livro intitulado “Manifesto Antimaternalista: psicanálise e a política da reprodução”. Nele, Vera denuncia estar em colapso a função materna como conhecemos. Se você acredita minimamente em igualdade de gênero, ou, pelo menos, na sobrecarga feminina, é sempre bom lembrar que as mulheres precisam ser radicalmente comprometidas com a sua própria felicidade. Caso contrário, quem será?

É sempre bom lembrar de Winnicott: “os tempos mudam, as necessidades das crianças, não”. Não existe filho sem projeções narcísicas. Não existe sujeito sem desprendimento do narcisismo parental. Seguimos no enigma.

© 2025 MARIANA ARAÚJO
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