Não me deseje feliz dia das crianças, preserve a infância. Não me encha de brinquedos, esteja atento a mim e me olhe nos olhos. Não me trate como um idiota, não me subestime, não me tire a oportunidade de fazer algo por mim mesmo e conquistar habilidades novas. Mesmo que eu seja desengonçado, faça bagunça, não colabore, por favor, não desista de mim.
Não pense que eu não percebo o que acontece ao meu redor, mesmo que eu não consiga me expressar sobre tudo que presencio. Por favor, não esqueça que o que estou vivendo agora vai ficar na memória e me acompanhar pelo resto da vida. Por favor, seja gentil.
Preserve a infância para me proporcionar um ambiente facilitador do meu desenvolvimento, para promover a internalização daquilo que é bom: a qualidade das relações, a capacidade de ser espontâneo, o valor de um abraço ou um beijo no dodói. É importante para mim um refúgio quando vem o medo do escuro. É importante brincar.
Por favor, brinque comigo. Isso faz diferença. As vezes é difícil distinguir o certo e o errado, mas é necessário reconhecer o bom e o ruim. Estou aprendendo.
É necessário preservar na história pessoal de cada pessoa um momento na linha da vida onde se pode ser inocente e gozar da vida. Nada mais triste do que se tornar adulto antes da hora. Nada mais triste do que uma desilusão precipitada, antes que eu possa me fortalecer o bastante para encarar o fato de que a vida pode ser injusta.
Lembre-se que preservar a infância é muito difícil, porque exige abrir mão do seu próprio conforto. Lembre-se que tudo isso, no entanto, previne a guerra e a dor. Plante uma árvore, preserve a infância, aposte no futuro. Talvez você não esteja mais por aqui e reste a mim ficar com o que sobrou da humanidade.
Por favor, suas boas atitudes viverão para sempre dentro de mim e essa será sua maior herança. Por favor, cuide de mim se eu for seu filho, seu vizinho ou o povo que você governa. Não me deseje feliz dia das crianças, eu preciso de muito mais.
Com esperança,
uma criança.
© 2025 MARIANA ARAÚJO
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